Folha Dirigida  -  Educação  -  pg. 08  -   1/7
Posicionamento da Andifes sobre cotas gera discussão
Carol Vaisman

Para pesquisador da Uerj, federais não têm coragem para defender cotaS   


O debate sobre a adoção do sistema de cotas nas universidades públicas federais está, constantemente, na pauta de reuniões de entidades envolvidas com o ensino superior brasileiro.

Mas enquanto a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) defende que cada universidade tenha autonomia para definir os seus critérios, representantes dos movimentos sociais querem que o Congresso aprove logo o Projeto de Lei n° 73/1999, que prevê a implantação das cotas nas universidades públicas.

Para o advogado e pesquisador do Laboratório de Pesquisas Públicas da Uerj, Renato Ferreira, já se foi o tempo de se fazer novas propostas.

"As universidades precisam ter coragem de reduzir as desigualdades. Elas já deviam ter apresentado, há muito tempo, modelos de inclusão étnico-racial, que é um projeto muito rico e bonito. As políticas de inclusão ainda são muito tímidas e, mesmo assim, o número de alunos que foi integrado às universidades é muito maior do que em toda a história do país. As universidades deveriam ter apresentado suas propostas há muito tempo. Autonomia universitária não é não cumprir a lei federal e o que  governo decide", afirmou o pesquisador. Esta não é a posição, contudo, da maior parte das instituições de ensino.

Em um manifesto, coordenadores de vestibulares de 28 instituições públicas de ensino superior se mostraram contra o projeto de adoção de cotas nas universidades públicas.

"Muitas universidades já estão criando políticas de inclusão. Algumas adotaram cotas, outras os bônus para estudantes de escolas públicas, como acontece na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e na Unicamp, por exemplo. Uma universidade é completamente diferente de qualquer outra repartição pública. Por isso, deveria ser regida por um modelo jurídico especial, que atendesse às particularidades das instituições de ensino superior", afirmou o presidente da Andifes, reitor Amaro Lins.

Este também foi o tema da última reunião entre os reitores do sistema federal, realizada na quinta-feira, dia 26. De acordo com Amaro, esse debate envolve a questão da autonomia universitária.

"Muitas universidades já estão criando políticas de inclusão. Achamos que essa decisão deve ficar a cargo das universidades e que as características de cada região devem ser consideradas. A imposição de uma lei fere a autonomia, porque todas as instituições terão que adotar o mesmo sistema. Pretendemos conversar com o ministro da educação Fernando Haddad para tentarmos convencê-lo de que esse não é o caminho adequado", analisou.

Apesar de a Andifes ser a favor de que cada instituição de ensino estabeleça seu próprio critério na adoção das cotas, Amaro Lins afirmou que a associação se preocupa em garantir a igualdade no ensino, a qualidade da expansão das graduações nas universidades e contribuir para a melhoria do ensino básico. "Precisamos formar profissionais mais qualificados, melhorar a formação inicial dos professores e reduzir as desigualdades no país", disse o reitor. Para ele, a imposição fere a autonomia.


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