Folha Dirigida  -  Educação  -  pg. 07  -   29/5
Alunos criticam projeto de cotas nas federais
Luís Gustavo de Almeida

Órgãos estudantis e entidades ligadas à cultura negra vêm cobrando uma "maior igualdade social" entre todos os estudantes, independente de sua raça e condição social. Na última semana, o projeto de lei que regulariza o sistema de reserva de vagas nas universidades federais esteve em pauta para votação da Câmara, mas foi retirado. Nesse programa, cada instituição teria que oferecer 50% de suas vagas do vestibular para os alunos de rede pública.

Porém, alunos como Fernando Drummond, coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UniRio, acreditam que  essa porcentagem é muito alta, apesar de concordar com o projeto. Entretanto, o DCE de sua universidade é contra o sistema, pois o considera uma questão preconceituosa.

Em algumas instituições, já existe atrito. Na Universidade de Brasília (UnB), logo após a adoção de cotas no vestibular, banheiros da instituição foram pichados com mensagens agressivas aos cotistas. Três anos depois, em 2007, um incêndio destruiu parte da Casa do Estudante da UnB, um conjunto de prédios que a instituição oferece a alunos carentes.

"Sou favorável ao sistema por ser uma medida paliativa. É uma medida que o governo tem que adotar para tentar sanar certas desigualdades, ou seja, é uma forma de curar os problemas na educação. Mas 50% acho um número muito alto. De repente 20% seria mais interessante. Mas mesmo assim é válido", declarou Fernando.

Para Vinícius Almeida, diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE), o projeto é um avanço, pois os negros são marginalizados pela sociedade, mas não deve terminar por aí. "Como primeiro passo é importante, mas ainda é pouco como política afirmativa contra a opressão de minorias. Não basta ser a questão do benefício. O necessário é uma reformulação do sistema educacional", afirma Vinícius.

Vinícius também acredita que essa evidência do problema de cotas abre um debate sobre outro tipo de profissional, que quase não existe em diversas áreas. "Raramente você vê um médico negro", ratifica ele.

Uerj foi pioneira neste sistema

Em seu ano de implantação na Uerj (2001), o sistema de cotas foi altamente procurado, mas depois de um tempo essa adesão pelos futuros cotistas diminuiu. Amanda de Souza, diretora de movimentos sociais da União Estadual dos Estudantes (UEE-Rio), segue a linha de pensamento de que tal fato não é culpa dos estudantes.

"Quando foi instaurado, todas as polêmicas sobre as cotas ficaram em 2º plano, tendo em vista a mudança radical na sociedade acadêmica da Uerj. Se ele se desinteressa ou não consegue se manter na universidade é devido a ausência de políticas públicas e de investimentos para dar apoio ao aluno", disse.

Amanda também pensa que há uma diferença na qualidade de ensino das escolas públicas frequentadas por jovens de baixa renda, o que interfere no acesso à universidade. "O projeto é benéfico para corrigir essa distorção existente. O ensino superior ainda é muito restrito a um perfil de aluno que vem de uma classe social favorecida".


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