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Brasil terá mais negros do que brancos

Neste 13 de maio, militantes de movimentos sociais foram ao Supremo Tribunal Federal pedir que seja mantida a política de cotas do governo. Na celebração dos 120 anos da Lei Áurea, uma pesquisa previu que o número de negros no Brasil vai superar o de brancos até o fim deste ano.

A pesquisa, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mostra que os negros no Brasil são mais pobres e cada vez mais numerosos.

Em 1976, os brancos eram 57,2% da população brasileira e os negros eram 40,1%. Trinta anos depois, o número de brancos caiu para 49,7% e o de negros subiu para 49,5%. Segundo o IPEA, ainda este ano, os negros vão superar os brancos e que a igualdade de renda entre negros e brancos só seria alcançada daqui a 32 anos, se forem mantidas as políticas atuais de transferência de renda.

O governo também divulgou o mapa da população negra no Brasil. Os negros são mais numerosos nas regiões marcadas por ciclos econômicos durante a escravidão. Pará, Maranhão, Piauí, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Goiás.

No Palácio do Planalto, uma roda de capoeira marcou a celebração dos 120 anos da Lei Áurea, que aboliu a escravidão. Representantes de movimentos sociais defenderam a adoção das cotas para negros nas universidades como forma de reduzir as desigualdades no país.

“As políticas de cotas são, na sua essência, um caminho para derrubar essas desigualdades e elas, sendo aplicadas, você estaria impulsionando essa base social marginalizado para um patamar de maior competitividade na busca de melhorar as condições de vida”, afirma Gilberto Leal, da Coordenação Nacional de Entidades Negras.

Grupos contrários às cotas raciais não foram convidados para a cerimônia no palácio. Roque Ferreira, representante do Movimento Negro Socialista, acha que as desigualdades podem ser resolvidas de outra forma. “Eu sou contra as cotas porque elas são uma capa que não resolvem o problema. É muito fácil você retirar dois ou três, integrar esses dois ou três, dentro do sistema capitalista e deixar milhões e milhões de trabalhadores e jovens na rua da amargura”, ele critica.

Representantes de vários movimentos sociais entregaram ao presidente do Supremo Tribunal Federal um manifesto de apoio à política de cotas, com 740 assinaturas. Eles pedem que o supremo considere constitucionais o Programa Universidade para Todos (Prouni), programa de bolsas do Governo Federal que dá preferência a estudantes negros, e a política de cotas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que estão sendo contestadas no Supremo.

Segundo o documento, nos últimos cinco anos, houve um ingresso de estudantes negros no ensino superior maior do que jamais foi alcançado no século XX e que a política de cotas é coerente com os acordos internacionais de superação do racismo.

O manifesto foi entregue ao presidente do Supremo, Gilmar Mendes. “Queremos que os negros, os indígenas, brancos pobres, sejam portadores de políticas públicas que transformem o Brasil em uma nação ideal, onde todos tenham dignidade”, declarou Frei Davi, chefe da ONG Educafro.

13.05.2008


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