Tribuna da Imprensa  -  Nacional  -  pg. 06  -   13/5
Uerj questiona número cada vez menor de cotistas

Primeira a adotar o sistema de reserva de vagas no País, em 2001, antes mesmo do estabelecimento da lei das cotas, a Uerj está fazendo uma avaliação interna para melhor lidar com a questão.

Atualmente, a instituição tem em torno de 6.350 alunos que ingressaram por meio das cotas, num universo de cerca de 20 mil. Uma das perguntas para as quais procura resposta é: por que cada vez menos cotistas se inscrevem em seu vestibular?

De 2003 a 2008, a procura caiu 75%, segundo Lená Menezes, sub-reitora de Graduação.

Ela suspeita que o Pró-Uni, programa criado em 2005, que prevê a concessão de bolsas de estudo para alunos pobres, seja um dos responsáveis pela queda no número de inscritos. Isso porque muitos estudantes estão optando por estudar mais perto de casa, para reduzir gastos com transporte.

"Num primeiro momento, existiu uma expectativa grande de que o ingresso na universidade, por si só, resolveria questões de injustiça social. Houve uma certa euforia", lembra a professora, ao justificar o elevado número de inscritos em 2003.

O grupo de trabalho criado pela Uerj começou a se reunir em março e não tem ainda conclusões sobre a análise. O objetivo da avaliação é entender o sistema e melhorar o acompanhamento dos cotistas e dos já formados, agora que duas turmas já concluíram a graduação.

"Queremos ver se eles estão mesmo em outros patamares de oportunidades", explica Lena. As cotas valem em três universidades e institutos da Fundação de Apoio à Escola Técnica do estado. Na Uerj, funciona o projeto PróIniciar, que visa a auxiliar os cotistas durante o curso.

Em oficinas de leitura e escrita, é oferecido reforço para quem precisar. E atividades culturais ajudam na inserção na vida acadêmica, conforme conta Lena. Nos dois primeiros anos, todos recebem R$ 190 (para o restante do curso, a Uerj informa que não dispõe de verba atualmente). Existe um plano de aumentar o valor para R$ 250.

Para o estudante de Filosofia Cyro Garcia Junior, na Uerj desde 2004, ainda seria pouco. "Tinha que ser um salário mínimo (R$ 415), pelo menos", diz o rapaz, que, com os R$ 190, nem consegue pagar as passagens de ônibus de trem de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, até a Uerj, no Maracanã. Ele dá aulas na Educafro, no Centro, e ganha um salário mínimo. Em casa, ajuda os pais com R$ 100.

"Tem dia que eu passo o dia inteiro com fome na faculdade. O dinheiro não dá pra comer nem pra tirar xerox. Parece que o tempo todo tudo está me dizendo que meu lugar não é aqui". Apesar das dificuldades, o estudante, filho de empregada doméstica e operário, sonha com o mestrado. "As cotas são o início de um processo reparatório, só um primeiro passo. Na minha casa, existia uma pressão para eu trabalhar. Diziam que pobre trabalha e rico estuda. Mas meus pais perceberam que, agora, o futuro dos meus filhos será diferente."


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