O Globo  -  Opinião  -  pg. 06  -   11/3
Cotas polêmicas

Se um estudante branco e pobre tentar uma vaga numa universidade, não entra: não terá condições de brigar pela vaga de maneira normal, pois todo seu ensino foi de péssima qualidade na rede pública; e um sistema de cotas vai impedi-Io ainda mais de conseguir a vaga, apesar da condição social. Além de ser uma aberração contemplar a cor da pele e não a condição social de todos, que parece-me ser a mais justa na universidade federal, cria-se ainda uma discriminação inversa e só faz fomentar a cizânia entre os estudantes e a sociedade em geral. Se os governos querem corrigir um problema - o de não oferecerem um ensino de qualidade para o estudante brigar em condições de igualdade - não podem, em prol dessa correção, prejudicar quem luta para alcançar um direito legitimo. Criar novas vagas e separar o processo seletivo pode ser menos injusto. O governo deveria seguir o próprio lema: "Brasil, um pais de todos." E dar um ensino decente e não consertar lá na frente um defeito de modo tão absurdo como o sistema de cotas raciais.
SEBASTIÃO VICTOR MARIZ DE OLIVEIRA (por e-mail, 10/3), Rio

O sistema de cotas é mais uma maneira de o governo tentar corrigir a discriminação exercida por ele mesmo ao insistir em não oferecer ensino de qualidade a todos. Transferir a conta e a culpa pelos que não têm acesso à faculdade para os que têm é tapar o sol com a peneira. Resta-nos saber se os cotistas sairão da universidade igualmente capacitados e se os conflitos ficarão apenas no Judiciário ou vão contribuir para a segregação, uma vez que o sistema de cotas transfere os direitos dos que têm mérito para aqueles especialmente selecionados pelo governo.
LUIZ CARLOS DA COSTA JÚNIOR  (por e-mail, 10/3), Rio

Quando um juiz sentencia que "os interesses particulares não podem prevalecer sobre poIíticas públicas", para defender as cotas nas universidades, isso mostra que os nossos direitos são menos importantes do que a ideologia dominante e o projeto de poder do governo. Se a Constituição estiver atrapalhando a causa, ela deve ser sacrificada, pois os fins justificam os meios. Vale lembrar que o racismo se dá não pelo ódio a determinada etnia e sim peia diferenciação com base na mesma. A Constituição é clara nesse ponto: "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação". O regime de cotas é racista e, portanto, inconstitucional.
DANIEL DO VAL VILLARES CARLMAN  (por e-mail, 10/3), Rio


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