O Globo  -  O País  -  pg. 09  -   21/11
Lula: há discriminação contra negros bolsistas
Evandro Éboli - O Globo

Para ele, alunos beneficiados por ProUni sofrem preconceito por estudar de graça e ter ao lado "um branco pagando"

BRASÍLIA - Num discurso para representantes de movimentos negros, quilombolas, religiosos de crenças afro e parlamentares ligados à causa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira, no lançamento da Agenda Social Quilombola, que estudantes negros beneficiados pelo programa Universidade Para Todos, o ProUni, são provocados por estudantes brancos. Ele citou Minas como um estado onde ocorre esse ato discriminatório, que chamou de fissura.

- Eu sei que já tem universidade no Brasil em que companheiros negros estão sendo admoestados porque são negros e estão estudando de graça, e do lado tem um branco como eu, pagando. Isso cria fissura. Neste país, toda vez que a gente tenta ajudar os mais pobres, aparece uma ciumeira; as pessoas não estão perdendo nada, só não querem que os pobres cheguem igual a eles. E ser pobre e negro é pior ainda.

Para Lula, a discriminação não é uma questão de lei ou decisão, é cultural.

- Está impregnada em nosso cérebro e isso leva tempo para mudar. Não é uma coisa do dia para a noite.

"As pessoas, da boca para fora, são todas democráticas"

Lula afirmou que já chamou a atenção do ministro da Educação, Fernando Haddad, para que ele corrija o que está ocorrendo em Minas. Em outro momento, Lula contou que - quando era reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) – a ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Nilcéa Freire, enfrentou resistência para implementar as cotas para negros.

- As pessoas da boca para fora são todas democráticas, todas igualitárias. Tudo é moderno. Mas, na hora que chega a partilha do pão, tem cara que quer mais pão que o outro, não quer dividir, não quer repartir.

Antes de discursar, Lula pediu que Simplício Rodrigues, coordenador Nacional dos Movimentos Negros e Quilombolas, falasse. Ele elogiou os atos do governo nessa área, mas não deixou de dar um puxão de orelha no presidente:

- Nós não pedimos para vir para cá. Estamos aqui por uma causa, e essa causa nós não vamos deixar de mão. E no momento, pedir ao presidente que nós precisamos avançar mais um pouco na questão das regularizações de titulação da terra. É ou não é, quilombolas? - dis-cursou Simplicio, aplaudido.

Lula pediu aos movimentos negros que cheguem a um acordo sobre a proposta do Estatuto da Igualdade Racial, em tramitação na Câmara. O programa anunciado ontem pelo presidente, vai receber, entre 2008 a 2011, um aporte de R$ 2,3 bilhões, distribuídos em ações de 14  ministérios.


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