O Globo - O País - pg. 09 - 2/10 | |||
UNB muda regras para admissão de cotistas Demétrio Weber |
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Para decidir quem é preto ou pardo, universidade fará análise por entrevista e não mais por foto BRASÍLIA. Após recusar a inscrição de um irmão gêmeo e aceitar a de outro no vestibular pelo sistema de cotas para negros, a Universidade de Brasília (UnB) anunciou ontem que substituirá a análise de fotos por entrevistas para decidir quem é preto ou pardo e pode beneficiar-se da reserva de vagas. As novas regras valerão no próximo vestibular, cujas inscrições começam no dia 31. — Haverá um ganho de qualidade, confiabilidade e transparência. Vamos ter um contato frente a frente, que dispensa a tecnologia e a fotografia como intermediária — disse o reitor da UnB, Timothy Mulholland. No último vestibular, os irmãos Alan e Alex Teixeira da Cunha, de 18 anos, viveram uma situação curiosa. Os dois são gêmeos univitelinos, isto é, gerados a partir do mesmo óvulo. Mas, inicialmente, apenas a inscrição de Alan foi aceita. Ao analisar as fotos de ambos, a comissão responsável por definir quem é negro ou não entendeu que Alex não era. Só depois de apresentar recurso à própria universidade é que o irmão pôde disputar uma vaga pelo sistema de cotas. Os dois foram reprovados no vestibular. Entrevista será feita somente após o vestibular O especialista em ensino da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) Célio da Cunha gostou da novidade: — A entrevista é um método muito melhor do que a fotografia. Se for bem feita, não acontecerão mais (casos como o dos irmãos Alan e Alex). A mudança na UnB não se resume ao fim do uso das fotos. As entrevistas para decidir quem pode ser cotista ocorrerão após o vestibular. Segundo Mulholland, isso reduzirá o número de entrevistados, o que viabilizará a novidade. A UnB foi a primeira universidade federal a criar cotas para negros. Fez isso em 2004, quando 20% das vagas de todos os cursos, incluindo medicina, odontologia e direito, para estudantes pretos ou pardos. O reitor disse que o número de candidatos pelo sistema de cotas é de cerca de 4 mil por concurso. A partir do próximo vestibular, os estudantes deverão informar, no momento da inscrição, se desejam concorrer como cotistas. As entrevistas serão realizadas após as provas. O número de estudantes chamados para entrevista será equivalente ao dobro de vagas disponíveis. Quem tiver a inscrição recusada será excluído, sem direito a concorrer pelo sistema universal, como ocorre hoje. O reitor lembra que as cotas têm prazo de duração previsto até 2014 e que sofrem ajustes constantes. Ele disse que os cotistas têm desempenho acadêmico semelhante aos dos demais alunos: — O que lhes faltava era a oportunidade. Uma vez que entraram, tiveram desempenho igual aos demais. O objetivo do sistema é que a universidade fique com uma cara mais parecida com a do Brasil. |
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