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Nação, universidade e inclusão
Frei David Raimundo dos Santos

Os conflitos entre negros e brancos que os “profetas” preanunciaram não se verificaram. Tenho esperança de que a adoção de cotas será um dos fatores que fortalecerão a integração entre as etnias

Em 2002, um grupo de estudantes afrodescendentes da Educafro se crucificou em frente aos portões da UERJ, conclamando a adoção de ações afirmativas – cotas – para o ingresso nas universidades. Pela reação de alguns meios de comunicação, tínhamos a impressão de que aquele sonho seria impossível. Imaginávamos que só em 2010 estaríamos conquistando as primeiras universidades a adotar cotas. Hoje, cinco anos depois, em setembro de 2007, celebramos a instituição superior de ensino público número 50 a adotar algum tipo de ação afirmativa!

Setores da academia debruçaram-se sobre a questão e estão fazendo a sua parte. Mas universidades importantes como a UFRJ, UFMG e UFG continuam omissas. Os deputados e senadores tiveram em suas mãos a oportunidade de mudar esta realidade, através do projeto 73/1999. Infelizmente o PSDB e o DEM, mal assessorados, fizeram um requerimento e “engavetaram” o projeto. O Ibope pesquisou e revelou que 87% da população brasileira é a favor de incluir nas universidades os excluídos históricos, alunos provenientes da rede pública de ensino médio e deficientes.

Dezenas de estudos das várias universidades que adotaram cotas compararam o desempenho dos alunos cotistas com os demais que, no mesmo ano, entraram nas universidades públicas sem o “empurrão” das ações afirmativas. O resultado surpreendeu a todos os que imaginavam que iríamos colher um grande fracasso. Um dos exemplos é a UFBA, uma das primeiras a adotar essa política. De seus 61 cursos, os cotistas obtiveram notas melhores em 37 deles, inclusive medicina.

Os conflitos entre negros e brancos que os “profetas” preanunciaram não se verificaram. Tenho esperança de que a adoção de cotas será um dos fatores que fortalecerão a integração entre as etnias no Brasil. Nosso povo é, por natureza, um povo integrador.

Frei David Raimundo dos Santos é franciscano e fundador da Educafro – Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes


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