Extra  -  Geral  -  pg. 03  -   30/6
Da rua para a universidade
Eliane Maria

Menino que dormia sobre marquise no Grajaú hoje cursa economia e relações internacionais

A chance de se sentar nos bancos de uma escola pela primeira vez William Prudêncio da Conceição, de 24 anos, só experimentou aos 14. Entregue sem documentos pela mãe, ainda criança, a uma senhora que já cuidava de nove filhos, ele chegou a viver nas ruas e num abrigo. A idade limite para deixar uma instituição da prefeitura poderia ter posto a perder seu sonho de continuar os estudos, mas, com o incentivo de uma segunda família adotiva, o jovem hoje faz duas faculdades. Numa delas, a de economia, na Uerj, ingressou pelo sistema de cotas.

 

— Vivi com minha mãe até os 8 anos em períodos entrecortados, porque ela às vezes sumia. Fui deixado com essa família, que era muito pobre e vivia num casarão abandonado, próximo ao Morro dos Macacos. Era louco para estudar, mas, sem certidão de nascimento, só tinha contato com os cadernos dos filhos da mulher que me criou, quando eles voltavam da escola ou faziam o dever — lembra William.

 

Até a oitava, em 3 anos

Com a morte da mãe adotiva, William preferiu ir para as ruas a se mudar com os filhos dela para uma favela da Zona Norte:

 

— Dormia sozinho em cima de uma marquise, na Praça Edmundo Rego, no Grajaú, num vão sobre uma venda. Pedia dinheiro e comida às pessoas. Fiquei nas ruas por um ano, sem me juntar a grupos de menores. Um dia, uma equipe do Conselho Tutelar passou e decidi ir para um abrigo da prefeitura. Foi lá que consegui ter uma certidão e, finalmente, ir para a escola.

 


Ao completar 15 anos, William teve que deixar o abrigo, mas foi acolhido no sítio Família Santa Clara, onde o casal Cícero de Castro Rosa Neto e Eliete Soares de Castro Rosa cria 60 crianças.

 

— Ele chegou aqui com defasagem na idade escolar, ainda na 3ª série, mas com muita vontade de estudar. Tanto que os professores o pulavam de série. Em três anos, já estava na 8ª, sem fazer supletivo. No ensino médio, ganhou bolsa num colégio particular e foi o primeiro aluno do 1º ano — elogia Eliete.

 

Estagiário da Eletrobras, William cursa o 7º período de economia da Uerj, pela cota para negros, com médias 7 e 8, e o 6º de relações internacionais da Estácio, com bolsa parcial:

 

— Vejo os dois cursos como um só. Sonho ser diplomata num país africano. 
 
 


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