RIO - O vestibular de 2003 não figura entre as boas lembranças de Ewerton Marcus Nogueira de Oliveira, de 22 anos. Nascido numa família de classe média com tradição na formação de advogados, ele tentou aprovação na Uerj, que oferece um dos cursos de direito mais bem avaliados do estado. Sua nota lhe garantiria a sonhada vaga na universidade pública, mas um fator novo naquele ano fez com que ele tivesse que ficar com a segunda opção, uma instituição particular:
— Era o meu primeiro vestibular e eu estaria classificado, não fosse o sistema de cotas. Com ele, 104 pessoas, que tiraram notas inferiores, passaram na minha frente — explica Ewerton, estudante do 9 período de direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC).

Indignado com a eliminação, o estudante procurou um advogado para mover uma ação contra a universidade.
_ A ação foi indeferida e me matriculei na PUC. O sistema de cotas foi uma decisão política e acho errado tentarem resolver o problema da deficiência da rede pública dessa forma. Isso enfraquece o ensino da Uerj, que ainda está bom. O investimento tem que ser feito na educação de base – critica Ewerton.

Ex-aluno de colégios particulares como o Logosófico  e o Liceu Franco Brasileiro, na Zona Sul do Rio, Ewerton diz que escolheu a Uerj porque o curso era conceituado, mas que seta satisfeito na PUC:
_ O choque maior foi pela cobrança em casa, mas estou numa faculdade ótima, cujo diploma é bem recebido em qualquer lugar. Mas tenho pena de outras pessoas de classe média, classe média baixa que ficaram de fora por causa das cotas e não podem pagar uma faculdade particular.

Candidata a uma vaga no curso de educação física deste ano, Elen Sannt’Anna Cerqueira, de 20 anos viveu temporariamente o drama de Ewerton, até ser chamada numa reclassificação, em março:
_Passei em 30º lugar para o curso, que oferecia 30 vagas. Só que 16 estavam reservadas para cotistas. Acho que não é assim que se insere quem não tem acesso a universidade.