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Inclusão apenas no papel
Eliane Maria

Faculdade oferece vagas para deficientes, mas não está adaptada para receber quem usa cadeira de rodas


 
RIO - No caminho para realizar o sonho de ingressar numa universidade pública, o vestibular foi o menor empecilho para o servidor municipal John Carlos Neris, de 34 anos . Sobre uma cadeira de rodas desde que foi baleado em Recife, durante um assalto, em 2002, ele descobriu que poderia preencher uma das vagas do curso de fármacos, no Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo) pela cota destinada a portadores de deficiência. Mesmo com o direito assegurado por lei, John teve uma surpresa ao chegar ao prédio da faculdade: a instituição aceita a inscrição de cotistas, mas não está preparada para receber os que são deficientes.
O elevador da universidade não funciona e não havia banheiro nem bebedouro adaptado para cadeirantes no andar em que eu estudava.  Dependia da ajuda de amigos para subir e descer as rampas, que são íngremes e não têm corrimão — diz John, enumerando a lista básica de adaptações que a Uezo deveria fazer para recebê-lo.

Professor era francês

John ficou 17 anos afastado dos estudos, antes de voltar a escola, em 2005 para concluir o 2º e o 3º anos do ensino médio. O esforço para acompanhar o ritmo das aulas era grande, mas ele estava disposto a enfrentá-los, não fosse a dificuldade de acesso.
- No primeiro período, 90% da turma foi reprovada em física. O professor era francês e ninguém entendio o que ele falava. Mas o fato de a faculdade não ser adaptada para mim pesou mais. Fiquei frustrado e desisti do curso - admite John, que ainda sonha com o curso universitário, mas em outra instituição:
_ Penso em fazer educação física, para dar aula de natação adaptada.
Reitor da Uezo, Marco Antônio Lucidi afirma que está sendo feita uma licitação para consertar e adaptar o elevador da universidade.
_ Fica muito difícil mesmo para o aluno cadeirante chegar ao 4° andar do prédio. Todos os nossos laboratórios ficam no primeiro andar, mas as aulas são dadas em andares superiores - reconhece o reitor.
Andrei Bastos, gerente de comunicação do Instituto Brasileiro de Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), afirma que a falta de acesso é a maior dificuldade para os deficientes físicos carentes conclúirem o ensino médio.
_ Estamos muito atrasados com relação à acessibilidade em escola de ensino fundamental e médio. O deficiente não esta conseguindo concluir os estudos. Vê-se isso no mercado de trabalho. Essa discussão das cotas está distante das nossas necessidades.
 


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