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Reserva não garante acesso de cotistas às universidades
Eliane Maria

Alunos não estão preenchendo o percentual de vagas destinado a minorias carentes no estado


 
RIO - A legislação que criou a reserva de 45% das vagas nas universidades públicas estaduais para minorias carentes não tem sido suficiente para garantir o acesso de alunos negros, oriundos da rede pública, deficientes físicos e indígenas ao nível superior de ensino.

As duas instituições pioneiras na implantação da política de cotas no estado — Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) — registram queda na procura de cursos, principalmente a partir de 2005.


No ano passado, a Uerj preencheu 1.605 das 2.358 cadeiras destinadas a cotistas. As 753 que foram ocupadas por alunos comuns. A cota menos preenchida nas duas universidades é _ reservada para deficientse outras minorias  étnicas (D/I). Na Uenf, somente dois alunos se matricularam por este grupo até hoje, um em 2004 e outro no último vestibular.
Filha de comerciante de Itaocara, Aline Souza do Vale Lessa, de 21 anos, é aluna do 7° período de engenharia de produção e exportação de petróleo. Para ela, que com o olho direito só enxerga manchas, devido a uma toxoplasmose, a cota serviu como garantia de classificação:
- Fiquei sabendo das cotas por um professor. No início, achava injusto ter essa regalia. Mas, embora as pessoas não percebam meu problema, ele me atrapalha.
Gabriel Mendes Cardoso Fagundes, de 18 anos, aluno do 12 período de engenharia de produção, se surpreendeu com a baixa procura:
_ Tenho má formação do nervo óptico nas duas vistas e uso óculos com grau bem alto. Achei que o vestibular fosse ser concorrido, porque só havia duas vagas para esta cota no curso, segundo mais disputado da Uenf. Mas só tiNha eu.
Na Uerj, a situação não é diferente. Entre 2004 e 2006, foi, oferecido o mesmo número de vagas para a cota D/I: 280. No primeiro ano, apenas 32 foram preenchidas e, nos anos seguintes,36.
 Na Uenf, a matrícula de alinos negros cotistas caiu de 69, em 2003, para 15, no ano passado.

Queda Ligada ao ProUni

A maior queda na procura por vagas da reserva ocorreu em 2005, coincidentemente o ano de implantação do Programa Universidade para Todos (ProUni), do governo federal. Pela iniciativa, a União concede bolsas em faculdades particulares a alunos de rede pública, apenas com base na nota que eles obtiveram no Exame Nacional do Ensino Médio. Para ingressar na universidade pública pelas cotas, os estudantes têm que tirar no mínimo média 2 na prova, além de disputar pequeno número de vagas
 Na primeira chamada do ProUni, 9.449 bolsas foram concedidas a alunos do estado. Em 2006, o número para 13.239. Este ano, foram beneficiados.
- Alguns alunos que optariam pela cota podem estar escolhendo cursos em uma boa faculdade privada - diz o professor Aluizio Belisário, da Uerj.


Longe da tribo, perto do sonho

 O trajeto diário de duas horas, feito. em três ônibus, entre o bairro Nova Marilia, em Magé, onde mora, e a faculdade de geografia da Uerj, em São Gonçalo, não é obstáculo para Ruth Yara Nogueira da Silva e Silva. Aos 38 anos, ela está feliz por transpor o que considerava sua maior barreira para ter um diploma universitário: o vestibular. Essa manauara, que veio para o Rio ainda criança, é uma das poucas classificadas pela cota para indígenas.

Meu avô era índio. Não sou índia pura, mas sou descendente, Soube dessa possibilidade e resolvi me inscrever, porque sempre estudei em escola pública e não tinha base. Passei com 22,25 pontos. Sei que não é muito. O que favoreceu foi a cota - admite a universitária, que estuda em horário quase integral e tem que levar marmita de casa paea economizar, já que a faculdade não possui bandejão. 


 


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