Extra  -  Geral  -  pg. 03  -   20/6
Órfãos de policiais com acesso livre à universidade
Camilo Coelho e Marcos Nunes

Os filhos de policiais, bombeiros e agentes penitenciários mortos em serviço poderão ser beneficiados pelo acesso por cotas às universidades estaduais. Aprovado pelo plenário da Alerj na semana passada, o projeto de lei 170/2007, de autoria do deputado Álvaro Lins (PMDB), estende o benefício a eles. O governador Sérgio Cabral é simpático à idéia, mas diz que só sancionará a lei depois de a Secretaria da Casa Civil analisar sua constitucionalidade. Lins explicou que não haverá extensão no percentual de vagas hoje destinado às cotas: 45%. A nova classe de cotistas entrará nos 5% reservados a portadores de deficiência e indígenas. O deputado diz ter feito um levantamento nas duas principais universidades estaduais, Uerj e Uenf. Segundo ele, só 15% dessas vagas foram ocupadas em 2005. A Uerj não aprovou a idéia. Em discussões no Conselho Superior de Ensino e Pesquisa, a reitoria e profissionais da universidade criticaram a inclusão de mais uma categoria no já polêmico sistema de cotas. Para a família do cabo Paulo Cesar Lopes, uma das vítimas da violência no Rio, o projeto é um alento.— Toda vez que o telefone toca, o Paulo Gabriel, de 2 anos, pergunta pelo pai. Então, mostro a foto dele e digo a meu filho que o papai agora está lá no céu, olhando pela gente. O que posso dizer a uma criança? — indaga a viúva do PM, Elisângela Pereira, sem esconder a preocupação com o futuro do filho.

’A morte do meu marido não pode ser em vão’

 Lotado no 5 BPM (Praça da Harmonia), o cabo Paulo Cesar Lopes foi atingido por um tiro de fuzil na cabeça durante operação no Morro do Pinto, na Central do Brasil. Os disparos foram feitos por traficantes, que conseguiram fugir. Elisângela não quer que a morte do marido, que há 11 anos trabalhava na PM, caia no esquecimento. Por isso, faz um apelo emocionado às autoridades:— Muita coisa está errada. Muita gente fecha os olhos e as estatísticas só aumentam. Não quero que nenhuma outra família de PM sinta a dor que estou sentindo. A morte do meu marido não pode ser em vão. Vou fazer de tudo para que o Paulo seja lembrado. Quero Justiça — afirma.Desde que o marido morreu, a vida da dona-de-casa e dos filhos mudou. Aluna do último ano do ensino fundamental, a filha do policial ficou pelo menos uma semana sem freqüentar as salas de aulas e o curso de inglês.— Naquele dia, o Paulo Cesar ligou quatro vezes para casa. Na última, perguntou se estava tudo bem com as crianças. A polícia era a vida do meu marido. O Paulo vivia dizendo que se morresse trabalhando, iria morrer feliz, porque estava na polícia — afirma Elisângela.Em quase dez anos, o Estado do Rio de Janeiro perdeu 1.364 policiais militares — o equivalente a três batalhões de 454 homens cada. Segundo levantamento da Secretaria de Segurança Pública e do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violância Urbana (UFRJ), em 1998 foram registradas 122 mortes de policiais. Oito anos depois, o número saltou para 144 e, até este mês, 77 casos foram registrados. Como o EXTRA mostrou na edição de ontem, a cada três dias um PM morre no estado. E quem sofre são as famílias.Especialista no assunto, o sociólogo Michel Misse afirma que as estatísticas ainda precisam ser aperfeiçoadas, já que nelas estão incluídos PMs mortos fora de serviço, por vingança ou mesmo envolvimento com o crime.

 


Topo     Imprimir      Volta